Textos

Aspectos que diferenciam o Humanismo dos demais pilares da Psicologia: a Psicanálise e o Behaviorismo.

Marlene dos Anjos Navarro Delabio
Valéria Calipo
Viviane Zanuto Hubber
Orientadora: Maria Helena Berkers

*Monografia apresentada à disciplina de Teorias e Técnicas Psicoterápica da Universidade Metodista de São Paulo- 1999.
Resumo

O trabalho parte da base humanística da teoria rogeriana, fazendo um paralelo com a Psicanálise e com o Behaviorismo, pontuando os aspectos em que os três pilares da Psicologia se diferenciam. Considera-se ainda o momento histórico, familiar e social em que viveram seus criadores. Isso nos mostrou de forma mais clara os fatores que os influenciaram e fica mais evidenciado a visão diferenciada que cada um deles tem de um mesmo fato: o comportamento humano. Eles deram um enfoque pessoal e consistente, o que proporciona aos profissionais da área de Psicologia um bom leque de opções quanto à sua atuação profissional.

Palavras chaves: natureza humana, tendência atualizante, behaviorismo radical, psicanálise, humanismo

Abstract

The Roger´s humanistic ground work theory lead us to make a parallel with the Psichoanalysis and the Behaviorism, placing the differences between these three psychology pilasters apects. We are still considering the historical, social and familiar moment that they had grown up. This had shown us in a brighten way, what had shown us in a brighten way, what had influenced their work, and makes evident the different viewpoint that each one of them had, about the same fact or truth: The human behavior. They had given a solid personal attention to this subject, what have provided to the psychology professionals a good amount of choices about their professional performance.

Key Words:  human nature, trends, radical behaviorism, psycho-analyse, humanism

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Alunas do curso de Psicologia da Universidade Metodista de São Paulo – Umesp

**Professora do curso de Psicologia da Universidade Metodista de São Paulo – Umesp

Apresentação

No segundo semestre de 1999, foi proposto para a turma do VIII semestre de Psicologia a elaboração de trabalhos dentro dos temas concernentes à disciplina de Teoria e Técnicas Psicoterápicas. Nosso grupo procurou conhecer mais a fundo o trabalho desenvolvido por Carl Rogers, buscando entender o quanto ele influenciou os caminhos da Psicologia, com sua teoria que na época pareceu muito abrangente porém, sem esquemas  que lhe dessem um delineamento organizado, como haviam feito seus antecessores, e até mesmo seus oponentes contemporâneos.

Foi enriquecedor esse aprofundamento que nos levou a descobrir a riqueza dessa abordagem, e vermos o quanto ela pode ser mal interpretada pelo fato de Rogers não ter legado, desde o princípio, uma “política da abordagem psicoterapêutica centrada no cliente” (Rogers, 1977), fato do qual ele se deu conta ao ser questionado já aos setenta e cindo anos. A obra de Rogers é de leitura fácil onde parece ser mais um diálogo com o leitor, do que um amontoado de teorias difíceis de compreender, e a cada leitura fica cada vez mais evidente a fé inquebrantável  desse autor, para quem o homem vive dentro de um mundo subjetivo e pessoal, com escolhas subjetivas que se dão a partir de sua forma de experenciar os fatos que  lhe ocorrem. Para ele, “o livre-arbítrio passa a ser levado em conta, e esta escolha individual subjetiva exerce alguma influência na cadeia de causa e efeito” (Rogers, 1977 pg. 37). Ele faz essa afirmação em contraposição à Skinner, que afirmava o homem não ter liberdade de decisão. Rogers (1977 pg. 31), afirma que seu trabalho trouxe um certo “desconforto” no meio acadêmico por sua forma revolucionária de entender a relação terapeuta-cliente.

Introdução

Com o propósito de uma apresentação da teoria Humanista de Carl Rogers, foram levantados alguns pontos divergentes e convergentes com as teorias de Skinner e Freud, e com isso pode-se perceber com mais clareza, o quanto estes três teóricos trouxeram contribuições significativas para a Psicologia. Segundo Milhollan e Forisha (1978), o Humanismo tem sua base na Filosofia, ciência “mãe” da Psicologia, é uma doutrina ou atitude que se situa expressamente numa perspectiva antropocêntrica, em domínios e níveis diversos, assumindo com maior ou menor radicalismo as conseqüências daí decorrentes, manifestando-se o Humanismo nos domínios da lógica e da ética. No aspecto lógico aplica-se às doutrinas que afirmam que a verdade ou a falsidade de um conhecimento se definem em função da sua fecundidade e eficácia relativamente à ação humana; no aspecto ético, aplica-se àquelas doutrinas que afirmam ser o homem o criador dos valores morais, que se definem à partir das exigências concretas, psicológicas, históricas, econômicas e sociais que condicionam a vida humana. Essa capacidade do homem é que o torna capaz de modificar seu auto-conceito, suas atitudes e seu comportamento auto dirigido e que para mobilizar esses recursos basta proporcionar um clima de atitudes psicológicas facilitadoras, passíveis de definição. Dessa forma ele tira o “poder” das mãos do terapeuta o coloca nas mãos do próprio cliente (Rogers, 1977). Para compreendermos melhor como se dá esse processo, buscou-se descobrir o nível de distanciamento e aproximação existente entre os três grandes ramos da Psicologia: a Psicanálise, o Behaviorismo e o Humanismo.

Abordagem Centrada na Pessoa:

Rogers (1977, pg. 31), firmou-se em seis passos para fundamentar essa abordagem:

Em primeiro lugar, devido a experiências difíceis e frustrantes vividas por Rogers, na utilização das técnicas usuais na época, ele mudou sua forma de atendimento, passando a apenas ouvir de maneira compreensiva o cliente tentando transmitir-lhe esta compreensão, o que ele considerou ser uma força poderosa na mudança terapêutica da pessoa.

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Em segundo lugar, ele percebeu que a atenção empática constituía uma das janelas menos nubladas de acesso ao funcionamento do psiquismo humano, em todo o seu complexo mistério.
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Em terceiro lugar, a partir das observações faz-se inferências simples e formulação de hipóteses testáveis.
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Em quarto lugar, testando tais hipóteses houve descobertas sobre as pessoas e as relações interpessoais, cujos dados e teorias levantados, mudavam à medida que surgiam novas descobertas, num processo dinâmico que continua até este exato e preciso momento.
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Em quinto lugar, Roger descobriu que os aspectos básicos que propicia mudanças nas relações interpessoais de cada indivíduo, era inerente à própria pessoa. Através de dados obtidos em diversas experiências que realizou, ele chegou à conclusão de que esses aspectos eram de ampla aplicabilidade, podendo promover ou destruir mudanças auto dirigidas, quando liberados.
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Em sexto lugar, as situações abrangem pessoas, mudanças em seu comportamento e efeitos de diferentes tipos de relações interpessoais estão presentes em quase todos os empreendimentos humanos, o que para Rogers significou que sua abordagem poderia ter uma aplicação universal. Para ele, essa abrangência da sua abordagem é que pode explicar a sua espantosa disseminação.

A partir dos seis passos acima, é possível verificar que, sendo o homem considerado como um todo, um ser biopsicossocial, tudo o que envolve sua vida, seus sentimentos, crenças e, sendo esse ativo, ele é produto e produtor da sua história,  sendo também considerado por este motivo, o momento cultural em que está inserido. Optar pela filosofia humanística, significa chegar às mudanças sociais a partir do desejo humano de mudança e da potencialidade para realizá-la, e não a partir do condicionamento, o que resulta numa filosofia política profundamente democrática, ao invés da administração a cargo de uma elite, e obviamente essa postura traz conseqüências, por ser “revolucionária”. (Millollan e Forisha, 1978)

Foi em 1940 que Carl Rogers fez a primeira tentativa de cristalizar por escrito alguns dos princípios e das técnicas de um novo método em terapia, um método que foi rapidamente rotulado de “consulta psicológica não diretiva”. Dois anos mais tarde foi publicado “Couseling and Psycotherapy: New Concepts in Practice”.  Neste volume era exposta a prática dos princípios utilizados no domínio da consulta psicológica cuja finalidade era libertar as capacidades individuais de integração.

A construção teórica de Rogers gira em torno da construção do “eu”, de suas relações, interações, capacidades, habilidades etc. Acreditando por constatação, que o homem é capaz de lidar consigo mesmo, com sua situação psicológica, com auto compreensão e auto direção inteligente, é que o psicoterapeuta que se utiliza dessa abordagem é um profissional “facilitador” para que o cliente tenha seus sentimentos reelaborados, levando-o a um crescimento contínuo.

Trinta e sete anos após Rogers ter falado isso pela primeira vez,  e provocado um alvoroço, ele faz uma avaliação do quanto fora ousado, pois isso era exatamente o oposto de tudo na época, mas que o tempo se encarregou de mostrar  como essa “política” foi tão melhor sustentada empiricamente ao longo dos anos. O tempo fortaleceu sua posição e seus pressupostos ganharam cada vez mais, maiores números de adeptos. Rogers descreve  seu pressuposto como: “a hipótese gradualmente formada e testada de que o indivíduo tem dentro de si amplos recursos para autocompreensão, para alterar seu conceito, suas atitudes e seu comportamento autodirigido – e que esses recursos só podem emergir se lhe for fornecido um determinado clima de atitudes psicológicas facilitadoras” (Rogers, 1983).

Para Rogers (1975) há no homem uma tendência natural para o crescimento, o que ele chamou de Tendência Atualizante, que o leva naturalmente ao desenvolvimento completo, e que está presente em todos os organismos vivos. Essa é a pedra fundamental na qual se apóia  a Abordagem Centrada na Pessoa. Essa Tendência pode ser impedida, mas não pode ser destruída sem que se destrua o organismo. Ele cita como exemplo, plantas que nas condições mais adversas, buscam uma fresta de luz, na direção da qual crescem mesmo que isso a deforme. Qual é o clima que pode favorecer um indivíduo que por diversos motivos viveu em ambientes que de certa forma lhe distorceram o comportamento? Há três elementos chaves para que isso possa acontecer:

·      Congruência – ou seja, autenticidade absoluta da parte do terapeuta para com o cliente. O terapeuta deve ser ele mesmo, sem “fachada” de profissional. O termo transparência dá um maior significado a esse conceito. O terapeuta deve expressar completamente seus sentimentos positivos, sejam de compaixão, compreensão, como também seus sentimentos negativos, como medo, e nunca suas opiniões ou julgamentos sobre o cliente. Quando o cliente percebe que o terapeuta se dá o direito de ser autêntico, ele pode descobrir essa mesma liberdade.

·        Aceitação Incondicional – O terapeuta deve mostrar uma atitude de aceitação que permita ao cliente vivenciar qualquer sentimento. Isso exige o não envolvimento do julgamento e da manipulação, ou do rotular o cliente. Quando isso flui de uma maneira natural a probabilidade de sucesso no processo terapêutico é maior. O terapeuta não pode encarar isso como uma obrigação,  deve fazer parte do seu processo de relacionamento com as pessoas, principalmente com o cliente.

·        Compreensão empática – O terapeuta “entra” no campo fenomenal do cliente, sente seus sentimentos, e procura entender seus significados pessoais como estão sendo vivenciados pelo cliente. Ser empático não é uma técnica, é uma atitude desenvolvida ao longo da vida da pessoa, que leva o terapeuta a vivenciar o mundo interno do indivíduo para ajudá-lo a expressar o que está sentindo, não pensar “pelo” cliente e sim “com” o cliente.

À medida que o cliente sente que existe um momento, e uma pessoa, que acredita nele,  o aceita,  o escuta com atenção,  o aprecia, ele se torna mais capaz de abandonar suas fachadas e se mostrar mais claramente como  realmente é. Ao se ouvir, o cliente começa a se entender, muda suas percepções, e o poder que os outros tinham sobre ele começa a diminuir e ele passa a ter mais controle sobre si mesmo. Quanto mais aberta ao próprio crescimento, a pessoa se sente mais segura, menos defensiva, e mais propensa a crescer e mudar em direção ao seu desenvolvimento. Este tem que ser um processo natural na vida do cliente, sem que o terapeuta o direcione, o sugestione. O poder é do cliente e não do terapeuta, esse só deve criar o clima favorável para que esta capacidade interna do cliente se manifeste.(Rogers, 1961)

FREUD, ROGERS E SKINNER

·         Pontos divergentes e convergentes entre as três teorias

Rogers surgiu numa época de grandes divergências entre as correntes da Psicologia. Havia uma grande discordância entre os diversos segmentos, mais fortemente em dois deles: a linha psicanalítica e a linha experimentalista. Rogers se contrapõe mais diretamente à teoria skineriana, que parecia reduzir o homem a uma visão mecânica e reducionista. No entanto Rogers no decorrer de seus estudos soube aproveitar muito da teoria de Skinner. (Milhollan e Forisha, 1978)

Um dos pontos mais divergentes entre a teoria psicanalítica, o behaviorismo e a Abordagem Centrada na Pessoa é no que diz respeito à natureza humana, ou seja, a concepção de homem, a visão e a percepção que o terapeuta possui, e com que visão este profissional conduzirá seu trabalho. Outro ponto que deve ser considerado é o processo experiencial e o contexto sociocultural e histórico de cada teórico.

Freud foi o criador da Psicanálise, além de influenciar várias áreas do conhecimento, viveu metade de sua vida durante o século passado e quase quatro décadas deste século, o que proporcionou uma outra visão do mundo, e ainda, sempre foi discriminado e por fim perseguido na Segunda Guerra, devido sua origem judaica. Sua época foi marcada pela austeridade social, onde a mulher era confinada ao seu papel de esposa e mãe, sem direitos políticos e sociais, seu papel era de procriadora e mantenedora do lar. As mulheres que se aventuravam a qualquer coisa que fosse além disso, eram mal vistas pela sociedade castradora e austera vigente.

Skinner foi contemporâneo de Rogers, mas sua visão de homem era basicamente científica, e a partir dos estudos experimentalistas que já existiam, ele estruturou e sistematizou a causalidade entre a formação do comportamento e os estímulos ambientais. Skinner se contrapunha diretamente à escola psicanalítica. Rogers viveu durante este século recebendo uma educação afetiva, apesar de ser rígida, fundamentada na religião cristã, da qual ele se desvinculou mais tarde. Participou dos conflitos sociais nos anos 60, os quais trouxeram muitas mudanças sociais. Ele iniciou seu trabalho como psicólogo no momento em que os profissionais da época se dividiam entre o método psicanalítico e o comportamental, ele se opõe aos dois e inicia uma forma própria e peculiar na sua forma de atendimento, que foi chamada de “não-diretiva” e que se constitui na terceira força da Psicologia.

Freud via a pulsão de vida e a pulsão de morte, como faces da mesma moeda, dando a  Eros e Tânatos o mesmo peso (Laplanche, 1998). Para ele, o homem é possuidor de um permanente conflito entre forças antagônicas existentes em seu interior. O Id totalmente inconsciente, faz tudo o que é possível para atingir seus objetivos, ou seja, livrar-se da pressão de energia das quais é o próprio produtor e reservatório. O Ego tenta a todo custo servir de mediador entre as exigências do Id  e as exigências da realidade externa. O Superego, o aliado da cultura, na perpetuação das normas e dos valores sociais. Para Freud a natureza humana é determinada, sobretudo, pelas pulsões e forças irracionais, oriundas, do inconsciente; pela busca de um equilíbrio homeostático; e pelas experiências vividas na primeira infância. Em uma de suas conferências, Freud  fala da vileza, egoísta da natureza humana e o fato de que o homem não é muito digno de confiança no que se refere à sua sexualidade e seus desejos reprimidos, que vinham à tona de várias formas, uma delas através de atitudes de agressividade. Pontuou ainda sobre a guerra que devastou a Europa, dando a entender que tanta destruição não poderia ser desencadeada por uns poucos homens ambiciosos e sem princípios, se essas tendências destrutivas não existissem na maior parte da humanidade. A sociedade se vale de tanta hostilidade, e ainda precisa fazer uso da coerção, porque o organismo do homem era grandemente dominado pelas pulsões destrutivas, predominando a hostilidade o que facilita a coerção social, como elemento coibidor deste aspecto tão forte de sua natureza.

“Até o início da idade adulta, na maioria das sociedades, o Id terá sido domesticado. Quando não o é, o indivíduo costuma ser considerado muito especial, louco, mal, sagrado, ou qualquer combinação dos quatro.” (Kline, 1988) Toda obra de Freud tem afirmações sobre o pessimismo com relação ao homem, quer quando se refere ao “princípio do prazer” quer quando se refere a repressão necessária para suplantar a marcante hostilidade presente, em cada um de nós. Mas, ao que parece, ao longo de sua história, Freud reformulou alguns dos seus pontos de vista, passando a enfatizar também outros aspectos do homem. “Por fim veio a reflexão de que, afinal de contas, não se tem o direito de desesperar por não ver confirmadas as próprias expectativas; deve-se fazer uma revisão dessas expectativas”[1]

Diferentemente da teoria Psicanalítica, Rogers destaca a grande confiança que sente pelo homem. Essa confiança é baseada, através de experiências clínicas e comunitárias, resultados de pesquisas realizadas por ele e por seus colaboradores, em várias partes do mundo. Ele assinala que: “Acabei por me convencer de que quanto mais um indivíduo é compreendido e aceito, maior sua tendência para abandonar as falsas defesas que empregou para enfrentar a vida, maior sua tendência para se mover para a frente”. (Rogers 1961, pg.31). Se o homem não possui lesões ou conflitos estruturais profundos, apresenta essa capacidade, o que é uma característica inerente ao homem que não depende do processo de aprendizagem, mas sim de uma estrutura da qual participou, num clima de calor humano, sem ameaçar ou desafiar a imagem que a pessoa faz de si mesma. Quanto mais livre o homem for, para tornar-se o que ele é no mais fundo do seu ser, para agir conforme sua natureza, como um ser capaz de perceber as coisas que os cercam, então ele, nitidamente, se encaminha para a interação e integração de si mesmo. Somente um ser consciente será  capaz de libertar-se, o que chega a um ponto de impasse, dividindo-o. Isso ocorre devido a massificação da nossa cultura, que provoca a total alienação, que “de-forma” perspicaz, recalca os mais nobres dos nossos sentimentos como: o amor, a confiança e a bondade, juntamente com outros impulsos, socialmente proibidos. Desta forma, Rogers não acredita que, uma vez liberada a camada mais profunda da natureza humana, nos depararíamos com um Id incontrolável e destrutivo.

A Abordagem Centrada na Pessoa, considera a Tendência Atualizante como uma motivação polimorfa, ou seja, esta tendência pode trazer várias formas, de acordo, com as necessidades presentes no organismo. Discordando das teorias que tratam de motivação sobre um prisma biológico,  do qual o organismo procura reduzir suas tensões e restabelecer um estado de equilíbrio. Rogers acredita que os organismos estão sempre em busca de um  “vir a ser”, pois no seu entendimento, somente um organismo doente, mantém-se num equilíbrio passivo. O organismo sempre está em busca de algo, e isso é a fonte de energia que fez parte da função do sistema como um todo para a auto-realização e plenitude, que abrange não só a manutenção, mas também o crescimento.

Para Rogers, o homem preconizado por Freud, não é, socialmente falando, muito digno de confiança, com uma postura negativista. Para ele é exatamente o inverso, pois acredita que é justamente em um contexto coercitivo, onde o homem não pode expandir-se e atualizar seu potencial, que o leva a tornar-se hostil ou anti-social. Caso contrário, nada temos a temer, pois, seu comportamento tenderá a ser construtivo, “…será individualizado, mas também será socializado”

Skinner caracteriza sua epistemologia como Behaviorista Radical, apontando aspectos que distinguem sua versão comportamental em Psicologia do Behaviorismo Metodológico, que não considerava os conteúdos internos do indivíduo, enquanto que para ele  os comportamentos privados eram tão importantes quanto os comportamentos públicos, observáveis, e dessa forma sua obra se torna muito mais completa do que a de seus antecessores. Para ele, todo indivíduo tem dois tipos de comportamento: “sob a pele” – que são os comportamentos privados, aos quais, apenas o indivíduo tem acesso e “sobre a pele” – que são os eventos públicos, passíveis de serem observados por qualquer pessoa.

Segundo Milhollan e Forisha (1978), Skinner via  a realidade como algo objetivo, dedutível de forma lógica. O homem é um produto do meio, em função das contingências ambientais em que vive, a “comunidade verbal”, é quem dá significado a tudo que vivencia, ou seja, o que é ensinado para a criança desde a mais tenra idade é o que vai direcionar seu comportamento, suas crenças, seus ideais, etc. Para o Behaviorismo Radical, o processo terapêutico se dá mediante a análise de contingências, reforço positivo e conseqüentemente através de “auto regras”, que será a mudança de visão que o homem imporá a si mesmo quando consciente da sua necessidade de mudar seu próprio comportamento. Isso é o que Skinner denominou de “comportamento operante”, que é a capacidade do homem de agir apesar das contingências ambientais, dentro do processo terapêutico. Mas de forma geral, o indivíduo  não tem liberdade de escolha, ele age em função dos estímulos ambientais e suas respostas (comportamentos) a estes estímulos, podem gerar conseqüências que serão reforçadores negativos ou positivos,  levando a um aumento ou diminuição dessas respostas, ou que podem ser punitivas, o que provocaria a extinção das mesmas. Segundo essa premissa, desde que haja um determinado controle ambiental, obtém-se do indivíduo as respostas (o comportamento) desejadas.

Rogers também se opõe à orientação de Skinner, que defendia a  idéia que o homem não é livre, e não aceitava que a vida da sociedade iria constituir-se em controle e manipulação das pessoas, ainda que isso fosse feito para torná-las mais felizes, pois o homem é o arquiteto de si, assim, o papel que desempenha o subjetivo não deve ser minimizado (Millhollan, Forisha, 1978).

Conclusão

Não podemos negar a importância de cada um deles, a Psicanálise trouxe-nos o entendimento do homem a partir do seu passado, dos desejos reprimidos (Id), das regras introjetadas (Superego) e de como o Ego se estrutura na equilibração dessas duas forças antagônicas, além dessas contribuições, descortinou diante de nós a dinâmica do inconsciente com os seus vários mecanismos de defesa. O Behaviorismo contribuiu desde o início, mesmo com seus experimentos mais fugazes até culminar com o Behaviorismo Radical de Skinner, que sistematizou o que já havia sido feito, de forma lógica e coerente explicando a formação do comportamento, a partir dos estímulos ambientais. Sua metodologia terapêutica é de natureza diretiva e intervencionista, e quando aplicada a pacientes com determinados tipos de transtornos, mostra resultados mais rapidamente, como nos casos de autismo, bulimia, aneroxia, auto injúria e outros. Totalmente contrário das duas anteriores é a Abordagem Centrada na Pessoa, primeiramente na sua visão positiva do homem, e depois na sua metodologia que contrariava todos os direcionamentos que até então havia entre os que estudavam Psicologia. Rogers a princípio não se preocupou em sistematizar sua teoria, o que só foi fazer anos mais tarde, quando sua forma de atuar já era amplamente difundida. Sua atuação fundamenta-se na somente na fala do cliente e de como ele elabora essa fala, o papel do terapeuta será o de aceitar essa fala sem efetuar qualquer tipo de julgamento, pressão ou cobrança, e assim, o cliente tenderá por si mesmo ao crescimento saudável. O cliente dirige a sessão, o terapeuta apenas conduz, ou seja, o poder de mudança está no próprio cliente e o terapeuta será apenas um agente facilitador desse processo. A Abordagem Centrada na Pessoa foi uma técnica utilizada além das fronteiras do consultório e se estendeu para  diversas áreas do relacionamento humano.

Não resta dúvida de que a história de vida das pessoas e a maneira como a vivenciaram, podem influenciar no modo como se conduzem socialmente. Os próprios autores, em questão, foram influenciados por suas histórias, ao desenvolverem um ponto de vista sobre um mesmo assunto. No entanto, acreditamos que as três teorias trouxeram contribuições significativas não só para o campo da Psicologia, como também para toda a humanidade. Segue abaixo um quadro evidenciando as características dos três teóricos:

FREUD

·  Nasceu em 1856 em Freiburg Slováquia.

·  Morreu em 1939.

·  Filho de pais judeus perseguido pelo nazismo.

·  Sofreu discriminação durante as duas guerras mundiais.

·  Iniciou seus estudos quando o meio acadêmico buscava consolidar as mais variadas hipóteses sobre o comportamento humano.

·  Desvendou os mistérios do inconsciente, e foi o primeiro a relacionar as neuroses à sexualidade infantil.

·  Considerado o Pai da Psicanálise, e sua teoria sobre Ego, Id e Superego, permanece imbatível.

PERCEPÇÃO DE HOMEM

Para ele o homem é um ser dividido entre seus desejos de vida e morte.

Obra marcada por um certo ceticismo, sendo a natureza humana determinada por forças irracionais.

Acreditava que a sociedade civilizada estava ameaçada pela desintegração, devido à hostilidade primária dos homens entre si, e a cultura devendo recorrer a todo reforço possível a fim de erigir uma barreira contra o instinto.

Para ele, o homem é possuidor de um conflito permanente e antagônico, existente em seu interior, no qual o Ego tenta ser o mediador para encontrar o equilíbrio.

ROGERS

· Nasceu em 1902 em Oak Park, Illinois, USA.

· Morreu em 1987.

· Filho de pais dedicados porém rígidos na educação dos filhos e na religião.

· Viveu numa época marcada pelas mudanças sociais dos anos 60, como a liberação sexual, o movimento hippye, etc.

· Iniciou seus estudos em plena discussão sobre a Psicanálise e o método experimental, não gostou de nenhum dos dois.

· Inovou na sua forma de atendimento terapêutico quando percebeu que o cliente queria ser ouvido. Passou a usar o método chamado de não-diretivo.

· Criou a ACP – Abordagem Centrada na Pessoa

PERCEPÇÃO DE HOMEM

O homem é um ser subjetivo e experiencía cada acontecimento de forma única e pessoal.

Tem plena confiança na capacidade de desenvolvimento do homem, de seu crescimento, de se compreender, e resolver seus próprios problemas, desde que haja no seu ambiente condições favoráveis para que isso ocorra.

Acredita que o homem tem uma capacidade realizadora que ele chamou de Tendência Atualizante, que o capacita ao crescimento.

O homem é possuidor de uma motivação que pode levá-lo em várias direções, de várias formas. Essa motivação só não deve ser abafada, para não distorcer o seu crescimento.

SKINNER

· Nasceu em 1904 em Susquehanna, USA.

· Morreu em 1990.

· Filho mais velho de Willian Skinner e Madge Burrhus.

· Viveu numa época marcada pelas mudanças sociais dos anos 60, como a liberação sexual, o movimento hippye, etc.

· Iniciou seus estudos científicos fundamentado no método experimental.

· Aperfeiçoou este método, criando a AEC – Análise Experimental do Comportamento, que sistematizou o conhecimento existente sobre estímulo-resposta.

· Sua metodologia que foi chamada de Behaviorismo Radical.

PERCEPÇÃO DE HOMEM

Sua visão de homem é objetiva. Todo ser é produto do meio em que vive.

O homem não tem liberdade de escolha, ele dá significado às coisas de acordo com que lhe é ensinado pela comunidade verbal. As contingências ambientais determinam o comportamento do indivíduo, e se baseiam em três aspectos:

O histórico filogenético

O histórico ontogenético

O ambiente

As alterações no comportamento se dão através do Reforçamento Positivo, Negativo ou da Punição. O comportamento operante significa a alteração das contingências a fim de modificar o homem.

BIBLIOGRAFIA

Gusmão, Sonia M. L., A natureza humana segundo Freud e Rogers, Texto apresentado no Fórum Brasileiro da ACP no Rio de Janeiro; 1996.

Freud, S., O mal estar na civilização in Os grandes pensadores, 1º Ed.São Paulo: Abril, 1994

Kline, P., Psicologia e teoria Freudiana, 1a. ed.; Rio de Janeiro:   Imago, 1988

Laplanche, J., Vocabulário da psicanálise , 3º ed. São Paulo:Martins Fontes,1998

Millhollan, F, Forisha, F. A. Skinner X Rogers: Maneiras contrastantes de encarar a educação, 3º ed. São Paulo: Sumus editorial, 1978

Morato, Henriette. Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa: Novos desafios. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999

Rogers, Carl R.Psicoterapia e Relações Humanas. Vol. I. 1º  ed. São   Paulo: Interlivros, 1975

Rogers, Carl R. A pessoa como centro. São Paulo: EPU, 1977

Rogers, Carl R. Sobre o poder pessoal. 1º  ed. São Paulo: Martins    Fontes, 1978

Rogers, Carl R. Grupos de Encontro. 5º  ed. São Paulo: Martins Fontes, 1983

Rogers, Carl R. Um jeito de ser. São Paulo: EPU, 1983

Roger, Carl R. Tornar-se Pessoa, 5a. ed.; São Paulo: Martins Fontes,   1997

Freud, Sigmund: A história do Movimento Psicanalítico in Os pensadores(Pg. 47), Ed. Abril Cultural, 1978

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