Textos

Aprendizagem Centrada na Pessoa: Contribuição para a compreensão do modelo educativo proposto por Carl Rogers.

Fernanda de Mendonça Capelo

*Publicado na Revista de Estudos Rogerianos A Pessoa como Centro Nº. 5 Primavera-Verão 2000

Resumo

O presente trabalho é fruto de uma pesquisa bibliográfica que teve como pano de fundo a obra de Carl Rogers no âmbito da Abordagem Centrada na Pessoa aplicada à educação e que designou por Aprendizagem Centrada no Aluno.

Pretende-se evidenciar a determinante importância do contribuição deste autor, da corrente humanista da Psicologia, para uma maior eficácia no processo de aprendizagem, bem como para as Teorias Contemporâneas da Educação.

Como propostas são apresentados os pressupostos fundamentais do modelo da Abordagem Centrada na Pessoa, assim como os seus princípios e atitudes aplicados à Educação.

Palavras-Chave

Abordagem Centrada na Pessoa – Educação – Aprendizagem Centrada no Aluno – Processo de Aprendizagem – Relação Pedagógica – Atitudes Facilitadoras – Qualidade

Abstract

This project was accomplished after a bibliographical research on the works of Carl Rogers on the Person-Centred Aproach.

The aim of this communication is to highlight the decisive importance of Rogers’ humanistic Psychology and is contribution towards an improvement in the teaching/learning process as well as the Contemporary Theories of Education.

The basic attitudes of Person-Centred Approach model are present as propositions along with its principles and assumptions applied to Education.

Key Words

Person-Centred Approach – Education – Teaching/Learning Process – Pedagogic Relation – Quality – Basic Attitudes

“Em verdade, é pouco menos que um milagre que os métodos modernos de educação não tenham ainda estrangulado inteiramente a sagrada curiosidade da inquirição, pois esta delicada planta, além de estímulo, necessita principalmente de liberdade; sem esta, ela é inevitavelmente levada à destruição e à ruína.”

Albert Einstein

Introdução

O presente trabalho é fruto de uma pesquisa bibliográfica que teve como pano de fundo a obra de Carl Rogers, no âmbito da Abordagem Centrada na Pessoa aplicada à educação e que designou por Aprendizagem Centrada no Aluno.

Pretende-se evidenciar a determinante importância do contribuição deste autor, da corrente humanista da Psicologia, para uma maior eficácia no processo de aprendizagem, bem como para as teorias contemporâneas da Educação.

Assim, o objetivo fundamental será o de tentar estabelecer uma ponte entre os princípios enunciados por Carl Rogers, no âmbito da Abordagem Centrada para a Educação e o processo de aprendizagem, partindo do pressuposto de que estes princípios conduzirão a uma melhoria na relação pedagógica e conseqüentemente do processo de aprendizagem.

Ao tomar esta posição, temos em mente a afirmação de Carl Rogers de que o Sistema Educativo deverá ter sempre como objetivo o desenvolvimento das pessoas, de uma forma plena e, simultaneamente, que as conduza à sua auto-realização (1974: 380).

Não foi por acaso que o autor agora referido considerou que o homem educado é o homem que aprendeu a aprender (Rogers, 1986: 126), e que dentro do Sistema Educativo como um todo, deverá implementar-se um clima propício ao crescimento pessoal do aluno (Rogers, 1986:244). Segundo o autor “Tem-se de encontrar uma maneira de desenvolver, dentro do sistema educacional como um todo, e em cada componente, um clima conducente ao crescimento pessoal; um clima no qual a inovação não seja assustadora, em que as capacidades criadoras de administradores, professores e estudantes sejam nutridas e expressadas, ao invés de abafadas. Tem-se de encontrar, no sistema, uma maneira na qual a focalização não incida sobre o ensino, mas sobre a facilitação da aprendizagem autodirigida” (Ibidem).

Como propostas para este trabalho, são apresentadas os pressupostos fundamentais do modelo da Abordagem Centrada na Pessoa, assim como os seus princípios e atitudes aplicados à Educação, no modelo a que Rogers designou por Aprendizagem Centrada no Aluno.

I – A Abordagem Centrada na Pessoa: Pressupostos Fundamentais

Psicólogo americano, Carl Rogers foi pioneiro no desenvolvimento de métodos científicos que tinham como objetivo o estudo da mudança nos processos psicoterapêuticos, vindo a criar e a desenvolver um modelo de intervenção que designou inicialmente por Terapia Centrada no Cliente.

A Abordagem Centrada na Pessoa foi uma expressão utilizada por Carl Rogers para referir uma forma específica de entrar em relação com Outro, estando implícito um modo positivo de conceitualizar a pessoa humana. Esta expressão representa uma evolução no pensamento de Carl Rogers e no quadro teórico por ele desenvolvido, que foi formalizada na publicação do seu livro Sobre o Poder Pessoal (em inglês, On Personal Power, 1977), onde explicita a aplicação do seu quadro conceptual aos mais diversos campos (Gobbi et al., 1998: 13).

Na sua evolução, as idéias do autor passam do campo exclusivo da Psicoterapia para serem aplicadas em áreas como os Grupos, as Organizações e a Educação. Ao longo da sua vida Rogers foi clarificando as suas idéias e daí as mudanças de nomenclatura por si operadas fossem consideradas como atualizações do seu modelo teórico (Ibidem).

Progressivamente a filosofia de base humanista, a que está subjacente o quadro conceptual da Abordagem Centrada na Pessoa, foi encontrando eco em pessoas de horizontes profissionais diversos, nomeadamente no domínio da Educação, acabando por se constituir um Movimento que é conhecido atualmente como Abordagem Centrada na Pessoa. Este pode ser definido como integrando três pressupostos de base:

1.

Uma concepção do homem alicerçada nos princípios da corrente humanista da Psicologia.
2.

Uma abordagem fenomenológica que privilegia a experiência subjetiva da pessoa, implicando que o conhecimento que se tem do outro surge a partir da compreensão do seu quadro de referências.
3.

Uma forma de entrar em relação que se constitui como um encontro entre pessoas.

Relativamente ao primeiro pressuposto salientamos a expressão de Rogers que afirmou que a Abordagem Centrada tem como principal premissa “uma visão do homem como sendo, em essência, um organismo digno de confiança” (1989:16). Por outro lado, dois conceitos foram desenvolvidos por Rogers, e que são considerados como fundamentais para a compreensão do seu modelo e que são a Tendência Atualizaste e a Não Diretividade.

1- Conceito de Tendência Atualizaste

A noção de Tendência atualizante é para Rogers o postulado fundamental da Abordagem Centrada na Pessoa, à medida que conduz não só à satisfação das necessidades básicas do organismo, como também às mais complexas. A Tendência atualizante permite, por um lado, a confirmação do Self e, por outro, a preservação do organismo, facultando assim, a consonância entre a experiência vivida e a sua simbolização.

Segundo o autor, sempre que esta consonância não se verifique, a pessoa entra em estado de incongruência, ou seja, gera-se um desequilíbrio entre a experiência real e a simbólica, o que se traduz num comportamento desajustado, conduzindo a estados de ansiedade, angústia e depressão, os quais, por sua vez, afetam a personalidade e o seu respectivo desenvolvimento.

Rogers definiu o conceito de Tendência atualizante através da seguinte preposição:

“Todo o organismo é movido por uma tendência inerente a desenvolver todas as suas potencialidades e a desenvolvê-las de maneira a favorecer sua conservação e enriquecimento. (…) A tendência atualizante não visa somente (…) a manutenção das condições elementares de subsistência como as necessidades de ar, alimentação, etc. Ela preside, igualmente, atividades mais complexas e mais evoluídas tais como a diferenciação crescente dos órgãos e funções; a revalorização do ser por meio de aprendizagens de ordem intelectual, social, prática…” (Rogers & Kinget, 1977, citado por Gobbi et al., 1998: 144).

2- Conceito de Não Diretividade

O método psicoterapêutico desenvolvido por Rogers ficou conhecido inicialmente por Terapia Não Diretiva, tendo posteriormente evoluído para Terapia Centrada no Cliente e mais tarde Abordagem Centrada na Pessoa. A definição de não diretividade passa, segundo Rogers, pelo acreditar que “o indivíduo tem dentro de si amplos recursos para autocompreensão, para alterar seu autoconceito, suas atitudes e seu comportamento autodirigido” (Rogers, 1989: 16). Em oposição a outros modelos de intervenção, Rogers propõe um que acredita na autonomia e nas capacidades de uma pessoa, no seu direito de escolher qual a direção a tomar no seu comportamento e sua responsabilidade pelo mesmo (Idem:28).

Nas palavras de Pagès (1976, citado por Gobbi et al., 1998: 104-105)

“A não diretividade é, antes de tudo, uma atitude em face do cliente. É uma atitude pela qual o terapeuta se recusa a tender imprimir ao cliente uma direção qualquer, em um plano qualquer, recusa-se a pensar o que o cliente deve pensar, sentir ou agir de maneira determinada. Definida posteriormente, é uma atitude pela qual o conselheiro testemunha que tem confiança na capacidade de auto-direção do seu cliente”.

Neste sentido a Não diretividade pode ser entendida como uma forte subscrição do conceito de Tendência atualizante na medida em que “É uma confiança de que o cliente pode tomar as rédeas, se guiado pelo técnico, é a confiança de que o cliente pode assimilar insight se lhe for inicialmente dado pelo técnico, pode fazer escolhas”.(Rogers, citado por Raskin, 1998:76)

A atitude não diretiva pode ser transmitida através das respostas reflexo de sentimento ou reformulação, que é a forma que o terapeuta utiliza para acompanhar o cliente, sem o dirigir (Raskin, 1998: 77) ou seja acompanhá-lo a partir do seu (cliente) quadro de referência.

Relativamente ao segundo e terceiro pressupostos atrás enunciados, Rogers deu um relevo particular à forma como a pessoa entra em relação com outra. Assim, enumerou e definiu um conjunto de atitudes que considerou facilitadoras do processo de comunicação inter-humana. No caso específico da temática em referência, a qualidade de relação que se estabelece no contexto pedagógico, nomeadamente as atitudes do professor para com o aluno, determinam não só o nível qualidade da aprendizagem, como também o próprio desenvolvimento pessoal do aluno.

Apesar de, na perspectiva de Rogers estas atitudes fazerem parte de um conjunto que deve estar integrado na pessoa do professor, iremos defini-las cada uma per si, como forma de melhor explicitarmos o quadro conceptual do autor.

Aceitação positiva incondicional

Esta, traduz-se pela aceitação incondicional da pessoa por parte da outra, tal como ela é, sem juízos de valor ou críticas a priori (Rogers, 1985:65). Desta forma, a pessoa pode sentir-se livre (liberdade experiência) para reconhecer e elaborar as suas experiências da forma como entender e não como julga ser conveniente para o outro. Poderá então sentir que não é necessário abdicar das suas convicções para que os outros a aceitem.

A aceitação positiva incondicional é uma atitude assente na crença no potencial interno humano, derivando do principal conceito proposto por Rogers a Tendência atualizante (Gobbi et al., 1998: 14).

Compreensão empática

Rogers definiu compreensão empática como uma “capacidade de se imergir no mundo subjetivo do outro e de participar na sua experiência, na extensão em que a comunicação verbal ou não verbal o permite. É a capacidade de se colocar verdadeiramente no lugar do outro, de ver o mundo como ele o vê”. (Rogers & Kinget, 1977, citado por Gobbi et al., 1998: 45).

Assim podemos dizer que a compreensão empática é um processo dinâmico que significa a capacidade de penetrar no universo perceptivo do outro, sem julgamento, tomando consciência dos seus sentimentos, sem no entanto, deixar de respeitar o seu ritmo de descoberta de si próprio (Rogers, 1985:64) e a pessoa sente-se não apenas aceite, mas também compreendida enquanto pessoa na sua globalidade.

Congruência

Finalmente, a congruência pretende indicar o estado de coerência ou acordo interno e de autenticidade de uma pessoa, a qual se traduz na sua capacidade de aceitar os sentimentos, as atitudes, as experiências, de se ser genuíno e integrado na relação com o outro (Rogers, 1985: 63).

Rogers defende que, se estas atitudes, que designou condições facilitadoras, estiverem presentes na relação, a pessoa entra num processo de aceitação de si própria e dos seus sentimentos, tornando-se por isso, na pessoa que deseja ser, mais flexível nas suas percepções, adaptando objetivos mais realistas para si própria e, simultaneamente, torna-se mais capaz de aceitar os outros (Rogers, 1985: 253).

Por outro lado, ao modificar as suas características pessoais básicas de modo construtivo, a pessoa adapta um comportamento mais ajustado à sua realidade (Idem).

Desta forma, uma relação fundada nas atitudes acima descritas pode sintetizar-se nos termos seguintes:

·         Respeito

·         Confiança

·         Aceitação

·         Autenticidade

·         Tolerância

II – APRENDIZAGEM Centrada no ALUNO: Princípios e Qualidades

A Aprendizagem Centrada no aluno (ou a aplicação da Abordagem Centrada na Pessoa à Educação) é claramente explicitada por Carl Rogers em duas obras fundamentais “Liberdade para Aprender” (1973, 2ª Edição) e “Liberdade de Aprender na Nossa Década” (1983, 1ª Edição), nas quais desenvolve as suas idéias sobre as formas mais adequadas de facilitar o processo de aprendizagem, apesar de ao longo da sua obra ter refletido inúmeras vezes sobre esta temática.

Rogers apresenta um modelo educativo que se pode considerar no mínimo inovador, pois o centro das suas considerações é a pessoa do aluno, em contraste com um modelo tradicionalista em tudo gira à volta da figura do professor. Podemos considerar que o autor faz uma autêntica revolução copérnica no campo da educação.

Das obras consultadas podemos destacar alguns princípios definidos pelo autor como fundamentais para o desenvolvimento do processo de aprendizagem:

1.  O ser humano contém em si uma potencialidade natural para a aprendizagem (Rogers, 1986: 28).

2.  Não podemos ensinar, apenas podemos facilitar a aprendizagem (Rogers, 1974: 381).

3.  A aprendizagem significativa acontece quando o assunto é percebido pelo aluno como relevante para os seus propósitos, o que significa que o aluno aprende aquilo que percebe como importante para si (Rogers, 1974: 382).

4.  A aprendizagem que implique uma mudança ameaçadora na percepção do self, tende para a resistência (Rogers, 1974: 383).

5.  As aprendizagens são melhor apreendidas e assimiladas quando a ameaça externa ao self é reduzida ao mínimo (Rogers, 1974: 384).

6.  A maioria das aprendizagens significativas são adquiridas pela pessoa em ação, ou seja, pela sua experiência (Rogers, 1986: 136-137).

7.  A aprendizagem qualitativa acontece quando o aluno participa responsavelmente neste processo (Rogers, 1974: 390).

8.  A aprendizagem que envolve a auto-iniciativa por parte do aluno e a pessoa na sua totalidade, ou seja, dimensões afetiva e intelectual, torna-se mais duradoura e sólida (Ibidem).

9.  Quando a autocrítica e a auto-avaliação são facilitadas, e a avaliação de outrem se torna secundária, a independência, a criatividade e a auto-realização do aluno tornam-se possíveis (Rogers, 1974: 404-405).

10. A aprendizagem concretiza-se de forma plena quando o professor é autêntico na relação pedagógica (Rogers, 1986:11).

11. Para uma aprendizagem adequada torna-se necessário que o aluno aprenda a aprender, quer dizer que, para além da importância dos conteúdos, o mais significativo para Rogers é a capacidade do indivíduo interiorizar o processo constante de aprendizagem (Rogers: 1986:126).

Para que este princípios estejam presentes na relação pedagógica é fundamental que o professor se torne no que Rogers designou por facilitador do processo de aprendizagem. E para que tal aconteça é essencial que haja uma segurança por parte de quem educa que lhe permita acreditar na pessoa do aluno, na sua capacidade de aprender e pensar por si próprio (Rogers, 1983, citado por Gobbi et al., 1998: 26).

Para além de enunciar os princípios que facilitam o processo de aprendizagem, Rogers propõe também um conjunto de qualidades que considerou como fundamentais para a transformação de um professor num facilitador da aprendizagem.

A primeira qualidade refere-se à Autenticidade do facilitador, que Rogers considerou como a mais básica e que designa como a capacidade de o facilitador ser real, sem máscara nem fachada na relação com o aluno (Rogers, 1986: 128). Desta forma, o autor crítica o ensino tradicional na medida em que o professor é um ator, representando um papel e não pessoa autêntica (Idem: 128). A proposta de Rogers traduz-se numa relação de pessoa para pessoa e não de um papel de professor para um papel de aluno.

A segunda qualidade, a que Rogers designou por Aceitação e Confiança e que se expressa numa capacidade de aceitar a pessoa do aluno, os seus sentimentos, as suas opiniões, com valor próprio e confiar nele sem o julgar. É uma confiança no organismo humano e uma crença nas suas capacidades enquanto pessoa (Rogers, 1986: 130), ou seja,

“Se os professores aceitam os alunos como eles são, permitem que expressem seus sentimentos e atitudes sem condenação ou julgamentos, planejam atividades de aprendizagem com eles e não para eles, criam uma atmosfera de sala de aula relativamente livre de tensões e pressões emocionais, as conseqüências que se seguem são diferentes daquelas observadas em situações onde essas condições não existem. As conseqüências, de acordo com as evidências atuais, parecem ser na direção de objetivos democráticos” (Rogers, citado por Gobbi et al., 1998: 27).

Finalmente, a terceira qualidade refere-se à capacidade de compreender empaticamente o aluno, ou seja, compreendê-lo a partir do seu quadro de referência interno. Nas palavras de Rogers, a compreensão empática acontece “Quando o professor tem a capacidade de compreender internamente as reações do estudante, tem uma consciência sensível da maneira pela qual o processo de educação e aprendizagem se apresenta ao estudante” (Rogers, 1986: 131).

Estas qualidades enunciadas por Rogers não são mais do que uma adaptação à educação das atitudes facilitadoras da mudança, propostas pelo o autor no seu modelo psicoterapêutico, sendo ele mesmo o primeiro a reconhecê-lo, afirmando que a educação é uma forma de relação de ajuda, na medida em que permite que alguém cresça e se desenvolva (Rogers, 1974: 377).

Resumindo, podemos dizer que, de acordo com modelo proposto por Rogers, os princípios e as atitudes atrás enunciados permitem não só o desenvolvimento intelectual do aluno, como também o seu crescimento enquanto pessoa total, promovendo a aprendizagem significativa e a interiorização do processo de aprender.

III – Ensinar e Aprender – duas faces da mesma moeda no modelo da Aprendizagem Centrada no Aluno

De acordo com as definições estabelecidas ensinar é a ação de comunicar um conhecimento, habilidade ou experiência a alguém, com a finalidade de que este o aprenda, utilizando para isso um conjunto de métodos, técnicas e procedimentos que se consideram apropriados.

Segundo Hipólito (s/d: 180), aprender e ensinar, na língua portuguesa significa “uma relação assimétrica, um saber-suposto ou saber real, capitalizado, susceptível de ser transmitido numa operação econômica estranha, na qual o que dá ou vende “saber” conserva intacto o capital, mas transforma a relação de poder que o capital significa”.

Rogers definiu aprendizagem como sendo uma “insaciável curiosidade” inerente ao ser humano e que a sua essência é o significado (Rogers, 1986:28-30), o que significa que o foco está no processo e não no conteúdo da aprendizagem. O professor deve ter em conta que os alunos aprendem aquilo que para eles é significativo. Por essa razão, a passividade muitas vezes vivida na sala de aula, produto e produtora de desinteresse, é um dos maiores inimigos de uma aprendizagem eficaz.

Assim, e de acordo com o modelo proposto por Rogers, é importante que o professor tente encontrar o fio condutor que orienta o aluno, ou seja, ir ao encontro do que o aluno tenta compreender e, se necessário, reformular conhecimentos e o método de os ensinar. O objetivo primordial deste modelo é o de que o aluno abandone a passividade e adquira um papel ativo, de intervenção no seu próprio processo de aprendizagem, o que significa que a aprendizagem deixa de estar centrada no professor, para passar a estar centrada no aluno.

O ato de aprender é sempre um ato individual, o que significa que aquilo que se aprende, adquire em cada pessoa um sentido e um significado próprios. Deste modo, as aprendizagens do aluno serão sempre diferentes, devendo as mesmas ser respeitadas pela pessoa do professor.

Sendo assim, um professor que se limite a expor uma série de conhecimentos aos seus alunos, baseando-se exclusivamente na transmissão dos mesmos, não conseguirá certamente ensinar, pois poderá correr o risco de não haver uma verdadeira compreensão das matérias, pese embora os bons resultados provenientes de exames ou testes, fruto de um trabalho de memorização e mecanização.

Tal fato não é necessariamente sinônimo de qualidade, nem de aprendizagem, considerando que o termo significa “processo que conduz a uma mudança relativamente permanente no comportamento como resultado da experiência passada” (Sprinthall, 1993:596).

Neste sentido, aprender traduz-se num processo de construção, no qual o aluno tem um papel decisivo na construção do seu conhecimento e onde o professor será o orientador, ou melhor, o facilitador desse processo, na medida em que o coordena e tutela.

Ensinar requer, assim, e de acordo com este modelo, um nível de maturidade e segurança por parte do professor, que lhe permita, por um lado, diminuir a assimetria do seu poder enquanto docente, partilhando a responsabilidade do processo de aprendizagem e, por outro, acreditar na capacidade de aprender e pensar por si próprio do aluno (Rogers, 1986: 194).

Por tudo o que foi referido, aprender é um processo dinâmico, que exige concentração, interesse, empenhamento e motivação, e por tal razão é importante que as relações de cooperação e participação entre professor e alunos estejam presentes.

De acordo com esta abordagem, o aluno passa assim a ter uma participação ativa e interventiva na escola. O que não significa que o professor abdique da sua responsabilidade, mas sim que permite ao aluno ter um papel ativo no seu processo de aprendizagem, na qual é co-responsável.

A classe poderá, deste modo, transformar-se num grupo de pessoas, deixando os alunos de ter os olhos postos exclusivamente no professor, para passarem a olhar uns para os outros de forma interativa. Deixam de ser um agregado de indivíduos que estão lado a lado, sem direito a comunicar, para passarem a ser um organismo vivo, em que todos os membros mantêm relações entre si.

CONCLUSÃO

O modelo educativo proposto por Rogers, no âmbito da Abordagem Centrada na Pessoa e que designou por Aprendizagem Centrada no Aluno, tem como objetivo principal permitir ao aluno uma participação ativa no seu processo de aprendizagem, ou, se quisermos, no seu processo de crescimento pessoal, no pressuposto de que esta cooperação melhora a eficácia da ação pedagógica.

Neste sentido, entendemos que a qualidade da aprendizagem e o ato de aprender, não dependem apenas de um suposto coeficiente de inteligência ou do domínio de métodos e técnicas de estudo, mas sim de um ambiente (clima) que seja facilitador dessa aprendizagem e crescimento.

Como a qualidade do processo aprendizagem passa, por um lado, pela construção de uma relação pedagógica, com base na aceitação e compreensão da pessoa do aluno e, por outro, pelo pressuposto de que o aluno contém em si potencialidades para aprender e como tal terá motivação para o fazer, o papel do professor facilitador será, assim, o de estimular e desenvolver as potencialidades do aluno e simultaneamente manter a motivação necessária ao seu crescimento e desenvolvimento pessoal.

Desta forma, escola e professores podem ter um papel importante na descoberta dos interesses dos alunos e desenvolvê-los de forma a criar hábitos de pesquisa, que lhes permitam manter a motivação para aprender e encontrar métodos de estudo adequados às suas próprias necessidades. Mas, não basta enunciar estes princípios que à primeira vista, se nos afiguram harmoniosos. É necessário pô-los em execução, o que não deixa de exigir um esforço permanente por parte de quem educa. Nas palavras de Rogers (1986: 326, 327):

“Uma abordagem desse tipo, centrada na pessoa, é uma filosofia que se acha em consonância com os valores, os objetivos e os ideais que historicamente constituíram o espírito da nossa democracia. (…) Ser plenamente humano, confiar nas pessoas, conceder liberdade com responsabilidade não são coisas fáceis de atingir. O caminho que apresentamos constitui um desafio. Envolve mudanças em nosso modo de pensar, em nossa maneira de ser , em nossos relacionamentos com os estudantes. Envolve uma dedicação difícil a um ideal democrático.”

Bibliografia

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