Mariana Agostini de Vilalba Alvim

Foto cedida pelo CRP-01

Mariana Agostini de Vilalba Alvim

MARIANA  ALVIM  (1909/2001)

(Texto de Adriano F. Holanda – FEVEREIRO DE 2002)

Mariana Agostini de Villalba Alvim, foi provavelmente a primeira pessoa a se referenciar pelo pensamento de Rogers no Brasil. Nascida no Largo da Carioca, no Rio de Janeiro, em 8 de abril de 1909, filha de Álvaro Freire de Villalba Alvim e Laura Palha Alvim, veio a falecer recentemente, a 13 de julho de 2001, em Brasília, cidade que havia adotado há longo tempo e na qual foi uma das pioneiras da Psicologia.

Pioneira também na Psicologia Brasileira – seu número de inscrição é o  274, no antigo Ministério da Educação, datado de 19 de dezembro de 1963), tem sua formação original de Assistente Social, obtida em 1941, pela antiga Faculdade de Serviço Social do Rio de Janeiro. Seu pioneirismo se reflete nas inúmeras entidades que ajudou a formar: Sociedade Pestalozzi do Brasil; Sociedade de Psicologia Individual do Rio de Janeiro; Associação Brasileira de Psicotécnica; Associação Profissional dos Assistentes Sociais do Rio de Janeiro, Sociedade Pestalozzi de Brasília, dentre outras.

Casada com o barítono português João Sampaio Brandão, em 1928, muda-se para Paris, onde permanece por cinco anos. Em Paris, tem a oportunidade de seguir vários cursos, dentre os quais, o de psicologia infantil com Henri Wallon (entre 1931 e 1933). Retorna ao Brasil em pleno governo de Getúlio Vargas, com uma orientação marxista. Devido à sua militância no partido comunista, sofre perseguições que levam-na a se esconder precariamente no interior do Rio de Janeiro. Neste mesmo período, sofre ainda com a perda de seu marido, falecido num acidente de avião.

Gradua-se, no Rio de Janeiro, em Serviço Social, com área afim de Psicologia, principiando na vida profissional num jardim de infância público e na Biblioteca Central de Educação da Prefeitura do Rio de Janeiro. Posteriormente, trabalhou como Psicóloga e Assistente Social no Serviço de Assistência ao  Menor (que futuramente viria a se tornar a Febem) do Ministério da Justiça (em dois períodos, entre 1941-1948 e entre 1957-1959).

Colaborou diretamente com o Dr. Emilio Mira y López, seguindo seus cursos na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e em outras instituições, como o ISOP – Instituto de Seleção e Orientação Profissional, fundado por Mira y López em 1946 – dentre eles: Seleção, Orientação e Readaptação Profissional (1946-1947); Psicologia e Psiquiatria Aplicadas à Psicotécnica (1948), Psicoterapia das Neuroses (1948), Psicologia Médica (1949), Análise Crítica dos Métodos de Exploração da Personalidade (1949), Psicologia Experimental (1950), Testes de Rorschach, T.A.T. e P.M.K. (1950-1951), Psicologia Evolutiva (1951), Higiene Mental (1955),  e outros.

Neste mesmo ISOP, Mariana viria a desempenhar funções de psicóloga durante longos anos. Entre 1959 e 1960, ainda chefiou o Serviço Social Psiquiátrico do Instituto de Psiquiatria da antiga Universidade do Brasil.

Em 1960, muda-se para Brasília, sendo uma das responsáveis pela difusão da Psicologia na nova capital federal. Organiza o Centro de Psicologia Aplicada do Distrito Federal (1961-1962), o Serviço de Seleção e Orientação da Universidade de Brasília, em 1962 – a convite do então reitor da UnB, Darcy Ribeiro – além de participar da Comissão de Seleção dos Servidores da Universidade. Foi ainda psicóloga do Conselho Penitenciário e do Centro de Seleção e Treinamento da Secretaria de Administração do Distrito Federal. Em 1991, assinou a ata de fundação do Movimento Pró-Saúde Mental do Distrito Federal, tornando-se assim uma referência na luta antimanicomial em Brasília.

Diante de tanta dedicação, Mariana não poderia deixar de ter o reconhecimento da comunidade. Recebeu o título de Cidadã Honorária de Brasília, concedido pela Câmara Legislativa do Distrito Federal, no dia 26 de junho de 1997. Atualmente, tramita na Câmara Legislativa projeto que se propõe a dar seu nome ao Instituto de Saúde Mental do Distrito Federal.

Referência também em relação ao pensamento de Rogers, a quem conheceu pessoalmente quando, em 1945, foi a Chicago aprender com ele a “entrevista não-diretiva” e com quem mantinha estreitos contatos. De volta ao Brasil, passa a aplicar seus novos conhecimentos em inúmeras atividades no Rio de Janeiro e em Salvador – onde exerce significativa influência sobre Maria Constança Villas-Boas Bowen, que foi sua aluna. Chegou a participar diretamente de uma série de atividades com o próprio Rogers e seu “staff”, como o workshop em Ashland, Estados Unidos, em 1976. Esteve ainda presente no Encontro Centrado na Pessoa, na aldeia de Arcozelo, Rio de Janeiro, em 1977.

Mariana Alvim foi uma cidadã ativa, uma profissional exemplar, e um ser humano sem igual. Nas palavras de Maria Leda Dantas, sua biógrafa, talvez tenhamos uma boa imagem de Mariana, que aqui reproduzimos no presente, pois presente sempre permanecerá em nossa memória: “Mariana é e sempre será uma educadora. Não uma instrutora que pára na habilidade a ser transmitida, mas como alguém que, como quer seu outro ídolo, Carl Rogers, coopera no projeto de cada um, de tornar-se pessoa” (Dantas, 1999:180).

Referências:

DANTAS, M.L.R. (1999). Subversão e Ternura. A saga de Mariana Alvim. Recife: Edições Bagaço.

CAMPOS, R.H.F. (2001) (Org.). Dicionário Biográfico da Psicologia no Brasil. Rio de Janeiro: Imago/Brasília: Conselho Federal de Psicologia.

TASSINARI, M.A. (1994). A História da Abordagem Centrada na Pessoa no Brasil:Primeira Versão. VII Encontro Latino-Americano da Abordagem Centrada na Pessoa, Maragogi, Alagoas.

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